21.1.05

Pif-Paf de Millôr IV

A galinha reivindicativa

Em certo dia de data incerta um galo velho e uma galinha nova encontram-se no fundo de um quintal, entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questão de notar que sempre vivera bem, tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava calmamente o fim dos seus dias.

- Ainda bem que está satisfeito – disse a galinha – e tem razão de estar, pois é galo. Mas eu, galinha, fêmea da espécie, posso estar satisfeita? Não posso. Todo o dia pôr ovos, todo o semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Pode estar certo que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. Há já seis meses que não choco e há uma semana que não ponho um ovo. A patroa, se quiser, que arranje outra para esses ofícios. Comigo, não, violão!

O velho galo ia ponderar filosoficamente que galo é galo e galinha é galinha e que cada ser tem a sua função específica na vida, quando a cozinheira, sorrateiramente, passou a mão no pescoço da doidivanas e saiu com ela esperneando, dizendo bem alto: «A patroa tem razão: galinha que não choca nem põe ovo só serve mesmo é prá panela».

Moral: Um trabalho por jornada mantém a faca afastada.

Por falar em descobrir a pólvora…

…e em tecnologia, a Associação Portuguesa de Software diz que a maioria das PME’s usam software sem licença! Genial! Ninguém imaginava que tal pudesse acontecer…

Um novo livrito



O inefável Louçã, em mais uma acção mediática de campanha, lançou ontem um livrinho, escrito de parceria com outro notável economista, Chris Freeman de seu nome, e cujo título é «Ciclos e Crises no Capitalismo Global». Só o título já dá um cheirinho a VI Internacional, contrariando assim a recente (e surpreendente) conversão ao Estalinismo deste líder histórico do trotskismo português.

No livrito, que eu ainda não li, mas que, segundo sei, se diz académico, afirma-se que a última revolução industrial (a tecnológica) foi diferente de todas as outras, pois foi a única que destruiu e não voltou a criar emprego. Por isso é necessário criar emprego sem cair numa lógica de «apartheid» social, promovendo a formação profissional, as igualdades etc, etc, etc…

Pois que sim, pois que sim! Descobriu a pólvora, este homem… Problema: a tecnologia. Solução: o programa eleitoral do Bloco de Esquerda! Pelo meio, comprem o novo livrinho, para a malta poder subsistir nesta sociedade capitalista, burguesa, e neo-liberal.

Nota: O diálogo de Louçã com Lenine não é da minha responsabilidade. Pessoalmente, até acho que eles não se dão muito bem, mas foi o que se pode arranjar...

E os activistas protestam…



..à porta da embaixada americana em Lisboa. Uma dúzia deles, que diz que tem opinião, e que tenta (e, espantosamente ou não, consegue) alertar os media para as intervenções belicistas americanas, o «Patriotic Act», entre outras coisas, que estão a transformar os EUA, segundo as palavras do porta-voz, “numa Ditadura Democrática”!

Curiosa expressão! Alguém ma consegue explicar? Tem a ver com a «Ditadura do Proletariado» e «Centralismo Democrático» (quiçá uma mistura dos dois conceitos), ou é mais algum «neo-sofismo»?

Um idealista visionário



É a nova imagem de Bush, se tomarmos à letra o seu discurso de tomada de posse como Presidente dos EUA. Não consegue assim ganhar a credibilidade desejada. Ó Condoleezza, não é por aí…

Coisas de "O Diabo" - Parte III



Sócrates: um «bluff» fabricado pelos media

Incansável, este semanário! Sempre na mesma bitola, publica ainda na edição de 18/01, em texto não-assinado:

“(…) fazer vista grossa ou quanto muito risonhas referências às «gaffes», contradições, mentiras e disparates, em que o pobre do Sócrates quase diariamente se atasca, não é sério.

Mas também não é inteligente, pois que se torna inevitável o desmascaramento deste «bluff» que cada vez mais se mostra e que – é preciso dizê-lo – é uma obra não apenas do PS, mas muito principalmente da tal «comunicação social» que quis vender gato por lebre, apontando o «ferocíssimo» Sócrates como alternativa desejável ao homem [Santana Lopes] que diariamente ia massacrando, com requintes cirúrgicos.

Podem começar a limpar as mãos à parede
.”

Agora pensemos na «gaffe» de Santana anteontem. Ele enganou-se (e foi um engano infantil, um erro político tremendo), e o PS veio a público chamar-lhe mentiroso. Santana desculpou-se publicamente, mas os media continuaram a extrapolar a notícia até à exaustão. O próprio Sócrates ontem, numa atitude reprovável (na mesma medida em que foi louvável a posição de Francisco Assis em relação às declarações de Nuno Cardoso), vitimizou-se, recusando e desvalorizando as desculpas de Santana, na presunção que todos têm a mesma atitude cínica que ele tem. E logo ele, que já disse dezenas de barbaridades e nunca pediu desculpa a ninguém. Não, Eng.º Sócrates, nem todos são da sua laia.

Nota: Afinal, parece que sempre foi nomeado alguém, mas parece que isso já não é importante para a comunicação social. O victim act de Sócrates já está feito e largamente difundido.

Coisas de “O Diabo” - Parte II



O imutável Partido Socialista

Na mesma edição, José Maria Martins, conhecido por ser advogado de «Bibi» e por chegar atrasado às audiências, e que, salvo erro, já foi militante do PS, afirma, «socraticamente»:

"(…) José Sócrates abanou por todos os lados; como sacudido pelo «tsunami» quando teve de admitir que não iria alterar as taxas do IRS nem a alteração aos benefícios fiscais, feitas no Orçamento Geral do Estado, aprovado recentemente.”

(...) O Partido Socialista é o mesmo da era de Guterres, as propostas são iguais, o «bluff» é total.

Devemos ter orgulho em nós próprios e não aceitar que o PS volte ao poder e a afundar Portugal, ou arriscamo-nos a ser a chacota da Europa
.”

Mais palavras para quê?

Coisas de “O Diabo” - Parte I



As «causas da pseudo-esquerda»

Diz Alberto João Jardim na edição de 18/01/2005 de O Diabo:

A pseudo-«esquerda» que nos está deparada, manifesta-se cada vez mais pirosa e ruim.

Pretendia que um Ministro de Portugal não se deslocasse a S. Tomé e Príncipe, para concretização formal de uma cooperação entre os dois Estados.

Pretendia que o Ministro ficasse por lá, à espera do avião da TAP de oito em oito dias.

E depois de pretender que o Ministro não fosse, mas ficasse oito dias, também pretendia «determinar» como deviam ser utilizados os seus legítimos tempos livres.

E, depois de tanta pretensão idiota, pretendem, também de forma idiota, fazer disto um tema eleitorareiro.

Estão a ver o mesquinho que é esta pseudo-«esquerda»?!...


Eu apoio e subscrevo. Acho o Morais Sarmento uma figura sombria, como só poderia ser um Ministro que é um misto de ex-boxeur e de advogado associado de um grande escritório, mas penso também que o Santana Lopes nada tinha a criticar neste caso específico. Santana preferiu alinhar no factóide da pseudo-«esquerda»: erro crasso!

O Diabo



Este semanário fundado por Vera Lagoa é uma delícia. Pena é não ter edição on-line. Desde o Alberto João Jardim, até ao João Coito, passando pelo Prof. Soares Martinez (que muitas vezes me deixa com a ideia de que sou um perigoso esquerdista), são pérolas atrás de pérolas, que eu irei tentando publicar aqui.

A Casa do Gaiato



Alguns alarves andam por aí a dizer, em auditorias da Inspecção-Geral da Segurança Social, que a Casa do Gaiato pratica «maus tratos psicológicos e físicos», com um «ambiente de repressão e clausura», e que a «maioria» das crianças, jovens e adultos recolhidos pela Casa do Gaiato «devem viver em sofrimento por terem sido abandonados pela família e não gostarem de morar numa instituição onde abundam o trabalho, a disciplina e os castigos». O relatório critica ainda o facto de a Obra da Rua «continuar a fazer a apologia da pobreza e praticar o assistencialismo e a caridade».

Suprema ordinarice! Só quem nunca compreendeu o espírito com que o Padre Américo fundou a Casa do Gaiato pode dizer uma coisa destas. A Obra da Rua, que substitui o Estado nas suas obrigações há sessenta anos, sustentando-se a si própria, quase sem ajudas. Pelo trabalho sim, mas trabalhando para si própria. Com castigos, sim, mas levante-se o primeiro hipócrita que nunca deu uma bofetada ou um castigo ao seu filho quando este se porta mal!

Sim, o relatório é, todo ele, pura hipocrisia! Mas o pior não é isso. O pior é que, depois do Ministro Fernando Negrão ter desvalorizado o relatório, numa manifestação clara de uma sensibilidade social que, efectivamente, os técnicos do seu ministério e os media não têm, eis que a TVI volta à carga ontem à noite, com as mesmas acusações, como se fossem novas, com sensacionalismo que a caracteriza, mas que nãos soube, ou não quis ter com as declarações do Ministro. A reportagem serviu apenas para denegrir ainda mais uma instituição que não merece esse tratamento parcial, a troco de um punhado de audiências anticlericais. Enfim, um nojo. O mais puro lixo televisivo.

Não resisto, pois, a transcrever a opinião de Godinho Granada, que explica melhor do que eu o que é a Obra da Rua, e as implicações deste relatório:

“(…) Há gente que vive mergulhada no chiqueiro do dinheiro e não distingue a depravação viciosa, da elevação moral.

Pretender igualar a Casa Pia e as Casas do Gaiato, da Obra da Rua, é uma pulhice ordinária e condenável.

A Casa Pia vive do pingue do Orçamento do Estado, com funcionários bem pagos, e caiu nas tentações da depravação.

As Casas do Gaiato vivem das ajudas dos pobres, com padres que apenas têm por paga o prazer do Bem, e por missão acolher, supletivamente, às misérias e desgraças que o Estado descura. Não são imunes, é certo, às deficiências de qualquer obra humana.

Mas são mais puras.

Por isso o relatório da Inspecção-Geral do Ministério da Segurança Social é moral e eticamente condenável. Moralmente, é uma nódoa; eticamente, é uma velhacaria
.”

20.1.05

EPC ao ataque

Ai, como eu ansiava por uma boa oportunidade de falar do EPC!!! Aqui, EPC comenta o último documento da SEDES. Começando no primeiro parágrafo, o leitor mais desatento fica na dúvida: quando diz que "é um texto de qualidade, denso, sereno e desdramatizador", está a falar do quê? Será que SEDES é um heterónimo qualquer de um novo (ou velho escritor) ? Será uma graciosa alcunha de um libretto actualizado de uma ópera de Verdi? O que é a SEDES afinal? E de que trata o texto?

Mais tarde decobrimos que o texto da SEDES, afinal, num "tom equilibrado e deliberadamente não "ideológico", é uma peça modelar de intervenção política." Mas EPC vai mais longe, contradizendo-se logo de seguida: "Dir-se-á que tem algumas ideias que pertencem ao pensamento liberal. Não devemos jogar com o fetichismo das palavras. Porque a esquerda, num processo de recuo, tem vindo a ceder à direita o que deveria ser um plano ofensivo e integrador por essa mesma esquerda."

Afinal, em que ficamos? É ou não é "ideológico"? Mais à frente diz: "Ora o documento da Sedes pode ter uma leitura de esquerda e uma leitura de direita. Talvez mais de esquerda, se considerarmos as reacções do PS (que considerou estar de acordo com quase tudo, excepto o aumento de impostos) e as da direita portuguesa (que ficou manifestamente irritada, porque a fotografia não corresponde à paisagem ensolarada que pretende dar). " Tem duas leituras? É de esquerda, excepto na parte em que se aumenta os impostos? A direita pretende dar uma paisagem ensolarada? Onde, quando, que eu ainda não ouvi?! Não me digam que a teoria da tanga é um postulado socrático!!!

Para terminar em grande, EPC vai dando alfinetadas ao Portas e ao Santana: um é um "bicho" "campeão da demagogia", o outro é "masoquista", e "nenhum deles diz seja o que for sobre a substância dos argumentos". É um herói, este EPC!

O que não deixa de ser um facto é que, mesmo concordando com a substância do documento (apesar de não achar que ele tenha uma leitura de Esquerda), depois de lêr os coloridíssimos e primaveris comentários de EPC, não posso deixar de pensar que os Poemas Sinfónicos de Smetana não passam, afinal, de documentos da SEDES.

Teve um achaque, o menino

O ex-presidente da Câmara Municipal do Porto e, pelos vistos, ex-candidato a candidato do PS à mesma câmara, teve um desabafo de alma. Coitado, depois de já reconhecer, intimamente, que fez asneira, e de vêr a sua candidatura ameaçada (eu disse bem, porque ele nunca foi cabeça de lista, foi nomeado para substituír o Fernando Gomes, sem ninguém pedir eleições atecipadas por esse motivo), ele resolve atacar para se defender, tornando a sua postura ainda mais inadmissível.

Mas os últimos dias foram pródigo em casos de amor entre futebol e política que, provavelmente, vão acabar em tragédias. Mais tarde hei-de falar deles.

Seis meses depois...

Seis meses depois, estou de volta. Só não sei se é para ficar.... Entretanto, umas remodelações e um membro abatido.