21.1.05

A Casa do Gaiato



Alguns alarves andam por aí a dizer, em auditorias da Inspecção-Geral da Segurança Social, que a Casa do Gaiato pratica «maus tratos psicológicos e físicos», com um «ambiente de repressão e clausura», e que a «maioria» das crianças, jovens e adultos recolhidos pela Casa do Gaiato «devem viver em sofrimento por terem sido abandonados pela família e não gostarem de morar numa instituição onde abundam o trabalho, a disciplina e os castigos». O relatório critica ainda o facto de a Obra da Rua «continuar a fazer a apologia da pobreza e praticar o assistencialismo e a caridade».

Suprema ordinarice! Só quem nunca compreendeu o espírito com que o Padre Américo fundou a Casa do Gaiato pode dizer uma coisa destas. A Obra da Rua, que substitui o Estado nas suas obrigações há sessenta anos, sustentando-se a si própria, quase sem ajudas. Pelo trabalho sim, mas trabalhando para si própria. Com castigos, sim, mas levante-se o primeiro hipócrita que nunca deu uma bofetada ou um castigo ao seu filho quando este se porta mal!

Sim, o relatório é, todo ele, pura hipocrisia! Mas o pior não é isso. O pior é que, depois do Ministro Fernando Negrão ter desvalorizado o relatório, numa manifestação clara de uma sensibilidade social que, efectivamente, os técnicos do seu ministério e os media não têm, eis que a TVI volta à carga ontem à noite, com as mesmas acusações, como se fossem novas, com sensacionalismo que a caracteriza, mas que nãos soube, ou não quis ter com as declarações do Ministro. A reportagem serviu apenas para denegrir ainda mais uma instituição que não merece esse tratamento parcial, a troco de um punhado de audiências anticlericais. Enfim, um nojo. O mais puro lixo televisivo.

Não resisto, pois, a transcrever a opinião de Godinho Granada, que explica melhor do que eu o que é a Obra da Rua, e as implicações deste relatório:

“(…) Há gente que vive mergulhada no chiqueiro do dinheiro e não distingue a depravação viciosa, da elevação moral.

Pretender igualar a Casa Pia e as Casas do Gaiato, da Obra da Rua, é uma pulhice ordinária e condenável.

A Casa Pia vive do pingue do Orçamento do Estado, com funcionários bem pagos, e caiu nas tentações da depravação.

As Casas do Gaiato vivem das ajudas dos pobres, com padres que apenas têm por paga o prazer do Bem, e por missão acolher, supletivamente, às misérias e desgraças que o Estado descura. Não são imunes, é certo, às deficiências de qualquer obra humana.

Mas são mais puras.

Por isso o relatório da Inspecção-Geral do Ministério da Segurança Social é moral e eticamente condenável. Moralmente, é uma nódoa; eticamente, é uma velhacaria
.”

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