5.7.04

Marlon Brando (03/04/1924 - 02/07/2004)




"O actor Marlon Brando morreu hoje, aos 80 anos, no Hospital de Los Angeles. Considerado por muitos como um dos melhores actores de sempre, Brando não era uma presença regular no grande ecrã há algum tempo, mantendo apenas aparições periódicas.

A informação da morte do actor foi avançada à Associated Press pelo seu advogado.

O protagonista de filmes como "O Padrinho" (1972, realizado por Francis Ford Coppola) nasceu no dia 3 de Abril de 1924 em Omaha, no estado norte-americano do Nebraska. Já antes, com "Há Lodo no Cais" (película de 1954 realizada por Elia Kazan), Brando transformou-se num ícone sexual dos anos 50, mantendo essa imagem durante bastante tempo, chegando mesmo a ser considerado pela revista britânica "Empire", em 1995, como uma das 100 figuras mais "sexy" de sempre da indústria cinematográfica.

Outro dos papéis inesquecíveis protagonizados por Brando é o do coronel Walter E. Kurtz em "Apocalypse Now" (1979), filme-choque sobre a guerra do Vietname com a assinatura de Francis Ford Coppola.

Apesar da sua imagem de "enfant terrible", a Academia de Hollywood chegou a conceder a Brando o Óscar de Melhor Actor pela sua interpretação em "O Padrinho", homenagem que Brando recusou, em protesto contra o tratamento dos nativos americanos. Uns anos antes, recebeu a mesma distinção por "Há Lodo no Cais". Brando foi outras seis vezes nomeado pela Academia pelas suas prestações como actor, principal ou secundário.

Avesso a aparecer em público, principalmente a partir do momento em que começou a engordar, "Bud", como era conhecido na família, tinha nove filhos, seis de três casamentos e três adoptivos. Os problemas familiares eram muitos e, recentemente, surgiram notícias de que Brando vivia sozinho num pequeno "bungalow" em Mulholland Drive, vivendo da pensão de actor e cheio de dívidas, muito devidas ao apoio legal que concedeu ao seu filho mais velho, condenado a dez anos de prisão pela morte do namorado da irmã.

Enquanto se manteve no activo, Brando teve uma carreira recheada de êxitos cinematográficos, tendo chamado a participar nos filmes de grandes nomes da realização.

"Um Eléctrico Chamado Desejo" (1951) e "O Último Tango em Paris" (1972) são duas das mais de 40 películas nas quais participou. Em 1997, a mesma revista "Empire" classificou-o em 13º lugar na lista das 100 estrelas de cinema de todos os tempos. Em 1989, Brando anunciou o seu divórcio com o cinema, apesar de ter continuado a aparecer esporadicamente no grande ecrã. Na altura, justificou: "Fazer cinema é a expressão de um impulso neurótico. É uma vida infernal. Deixar o cinema é um sinal de maturidade".

A sua última participação em cinema deu-se em 2001, em "The Score - Sem Saída", ao lado de Robert De Niro e de Edward Norton, dois actores que marcaram as duas gerações seguintes.

Uma das curiosidades sobre Brando incluídas no sítio de cinema The Internet Movie Database refere o facto de o actor, antes de o ser, ter trabalhado como operador de elevadores num armazém comercial durante quatro dias. Aos 20 anos, fugiu da brutalidade do seu pai, cujo sangue era composto, nas palavras do próprio Brando, de "testosterona, adrenalina, álcool e cólera", rumando a Nova Iorque e inscrevendo-se na exigente escola de representação Actor’s Studio.

Morreu sem ter acabado o filme onde faria dele próprio. "Brando e Brando", dirigido por Ridha Behi, tinha estreia anunciada para o próximo ano. O filme não chegou a estar concluído, mas o actor deixou um guião escrito para o seu próprio funeral. Brando disse à família que se estava a preparar para morrer quando, aos 79 anos, descobriu que sofria de problemas cardíacos. Segundo os amigos, Brando deixou várias cassetes onde dita quem não deverá ser convidado para a cerimónia fúnebre e o seu testamento. O seu desejo era ser cremado e que as suas cinzas fossem espalhadas pelas palmeiras da ilha no Tahiti da qual ele chegou a ser proprietário. Bernardo Bertolucci, que o dirigiu em "O Último Tango em Paris", classificou-o assim: "Um anjo como homem, um monstro como actor". "


- In Público.pt de 02/07/2004

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