26.1.05

A idade neobarroca

Ando a ler um livrinho muito interessante onde Omar Calbrese proporciona um panorama global dos modos de pensar, sentir e ver que hoje caracterizam a situação cultural, e que, a determinada altura diz o seguinte:

Enquanto as homologações não regulares dos juízos de valor exaltam a subjectividade e a relatividade dos juízos, as homologações do Clássico tendem antes a minimizar o sujeito que as julga e a buscar o quid objectivo das próprias coisas. Se este quid objectivo existe, então todo o sistema de juízos de valor se torna orgânico, porque não requer invenção por parte do sujeito, mas a adequação de todo o sujeito a princípios a ele externos. Todo o sistema dos juízos se revela assim plenamente auto-regulado e funcionalizado: tende por si a eliminar as turbulências e as flutuações. A crise, a dúvida, a experimentação são uma característica barroca. A certeza é característica do clássico.

Poderia assim chegar-se à explicação de por que é que o clássico se projecta naturalmente para uma dimensão conservadora. Mas tal conclusão fica em aberto, porquanto não é necessária e é talvez simplificadora. É, porém, interessante tomar em consideração o que alguns regimes autoritários explicitaram como slogans em favor de uma arte clássica contra os anticlassicismos experimentais. Tanto o regime nazi como o estalinista baptizaram as vanguardas as vanguardas com «arte degenerada». Com efeito, se se esquecer por um instante a conotação depreciativa que Hitler e Estaline davam à frase, o significado é surpreendentemente justo do ponto de vista morfológico. De facto, da nossa perspectiva, todo o fenómeno «barroco» surge justamente por «degeneração» (ou desestabilização) de todo um sistema ordenado, ao passo que todo o sistema «clássico» surge por manutenção do sistema perante as mais pequenas perturbações. Assim, enquanto o barroco às vezes degenera, o clássico produz géneros. É a fatal lei do cânon
.”

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