25.1.05

O enternecedor Louçã

Louçã, em definitivo, não desarma. Sentiu-se afectado pelas críticas à sua arrogância no debate com Paulo Portas e defendeu-se no Público. Quatro aspectos devem ser realçados:

  1. Como diz Paulo Gorjão, é uma novidade política. É, de facto, uma originalidade vêr o deputado bloquista a ser tão atacado, e, ainda por cima, dentro da sua família política, a ponto de ter de vir defender-se publicamente num jornal;
  2. Outro ponto, muito bem mencionado n'O Intermitente, foi a prestreza com que o Público se disponibilizou a dar tempo de antena ao fulano. Ou bem que são políticamente independentes, ou bem que se assumem politicamente. Esta "meia-água" em que todos gostam de andar tem tanto de tipicamente português, como de absolutamente terceiro-mundista;
  3. Há ainda que dar uma olhadela ao artigo em si sob dois pontos de vista, o legal e o moral. Do ponto de vista legal não concebo, nem hei-de conceber, como é que alguém possa, por um lado, afirmar-se como o único paladino das liberdades, e ao mesmo tempo, nem sequer pôr a hipótese de reconhecer personalidade jurídica a um feto, quando é precisamente o reconhecimento dessa personalidade jurídica que vai garantir ao feto as liberdades que ele tanto almeja defender. Mais, ao abominar este reconhecimento, ele entra numa profunda contradição. Argumenta ele que "implicaria que a moldura penal do crime de aborto passaria de 3 anos para no mínimo 8 anos de prisão e a anulação de todas as excepções da actual lei". Está certo!! Mas afinal não era uma questão de princípio? Afinal sempre existe, para o Bloco de Esquerda, um mal menor? Será que o BE só defende a despenalização do aborto por uma questão eleitoral, para poder marcar a agenda política, e não por uma questão moral? É que quando se vem moralizar no tom pio de Louçã, devemos ter consciência que só há o tudo e o nada. Não existe o "sim, mas, por outro lado...", todos os passos intermédios tem como objectivo a concretização de um objectivo final;
  4. Mas não fica por aqui, Louçã cobre-se de ridículo quando diz que: "ou uma posição moderada vence no único país da Europa onde ainda há julgamentos de mulheres por "crime" de aborto, ou o fanatismo intransigente continua". Fanatismo?? Será que Louçã está a chamar fanáticos atodos aqueles que se pronunciaram no Referendo negativamente a IVG, ou está a passar-lhes um atestado de incapacidade mental? Será, talvez, por isso que diz "não tenho outro compromisso que não seja com a liberdade e responsabilidade para a mudança desta lei, a partir da clareza da decisão democrática". Sim senhor, ele é o democrata moderado e modernaço, e quem não concordar com as suas opiniões que se lixe. Ou então que não fale, que (por uma qualquer razão de cariz marcadamente intolerante) não tem moral para falar!

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home