21.1.05

Pif-Paf de Millôr IV

A galinha reivindicativa

Em certo dia de data incerta um galo velho e uma galinha nova encontram-se no fundo de um quintal, entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questão de notar que sempre vivera bem, tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava calmamente o fim dos seus dias.

- Ainda bem que está satisfeito – disse a galinha – e tem razão de estar, pois é galo. Mas eu, galinha, fêmea da espécie, posso estar satisfeita? Não posso. Todo o dia pôr ovos, todo o semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Pode estar certo que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. Há já seis meses que não choco e há uma semana que não ponho um ovo. A patroa, se quiser, que arranje outra para esses ofícios. Comigo, não, violão!

O velho galo ia ponderar filosoficamente que galo é galo e galinha é galinha e que cada ser tem a sua função específica na vida, quando a cozinheira, sorrateiramente, passou a mão no pescoço da doidivanas e saiu com ela esperneando, dizendo bem alto: «A patroa tem razão: galinha que não choca nem põe ovo só serve mesmo é prá panela».

Moral: Um trabalho por jornada mantém a faca afastada.

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